Uma índia muito velha nos olha e sorri. Quase não há dentes em sua boca, mas o sorriso é de uma docilidade imensa. Ela faz um gesto com a mão, seu braço desenha um grande círculo no ar, abarcando tudo.Procuro entender o significado daquele gesto e, de repente, me vejo lançado ao espaço. Em meio à vaga-lumes de luz, olho a Terra e vejo o rosto daquela velha senhora. A nossa grande mãe que nos sorri. Ainda que pensemos ter ela poucos motivos para fazê-lo, ela não vê assim. Percebe, em cada filho seu, a sua própria continuidade.Continuar não significa permanecer como está, repetindo os mesmos movimentos, concretizando tendências. A continuidade de qualquer coisa só se torna possível quando vem alicerçada na adaptação dos seres, na flexibilidade gerenciando o próprio ato de criar e recriar.Continuar pressupõe caminhar. E, caminhando, jamais repetiremos os mesmos passos. Nossas estradas passam por paisagens em eterna mutação. E mesmo quando nos cremos andando em círculos, eles serão, no máximo, uma espiral, onde, a cada volta, não seremos mais os mesmos. Nem nossa Grande Mãe teve seu semblante sempre igual. E amanhã ele não será mais como hoje.Portanto, não se angustiem com a cara que nossa mãe Terra hoje nos apresenta. Os abusos que lhe causamos, as marcas que nossa insensatez e insensibilidade lhe deixaram, não tornar-se-ão cicatrizes. Compreenderemos que elas serviram para que pudéssemos perceber, concretamente, o efeito de nossos atos.A nossa própria imaturidade também faz parte do Grande Plano. Chegará o dia em que as pequenas mudanças que ocorrem no dia-a-dia, somar-se-ão e serão visíveis. Assistiremos, então, a transmutação de nosso planeta dentro de cada um de nós. E será uma grande festa. De uma alegria calma, que contagiará a todos os seres, irmanando-os num grande momento de profunda gratidão.
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