quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Uma Gota d'água

Uma palavra de esperança a alguém que está à beira do abismo. Um sorriso gentil a quem perdeu o sentido da vida.

Uma pequena gentileza diante de quem está preso nas armadilhas da ira.

O silêncio, frente à ignorância disfarçada de ciência... A tolerância com quem perdeu o equilíbrio.

Um olhar de ternura para quem pena na amargura.


Pode-se dizer que tudo isso são apenas gotas d`água que se perdem no imenso oceano, mas são essas pequenas gotas que fazem a diferença para quem as recebe.

Sem as atitudes, aparentemente insignificantes, que dentro da nossa pequenez conseguimos realizar, a humanidade seria triste e a vida perderia o sentido.

Um abraço afetuoso, nos momentos em que a dor nos visita a alma...

Um olhar compassivo, quando nos extraviamos do caminho reto... Um incentivo sincero de alguém que deseja nos ver feliz, quando pensamos que o fracasso seria inevitável... Todas essas são atitudes que embelezam a vida.

E, se um dia alguém lhe disser que esses pequenos gestos são como gotas d`água no oceano, responda, como madre Tereza de Calcutá, que sem essa gota o oceano de amor seria menor.


E tenha certeza disso, pois as coisas grandiosas são compostas de minúsculas partículas.

Pense nisso! Sem a sua quota de honestidade, o oceano da nobreza seria menor. Sem as gotas de sua sinceridade, o mar das virtudes seria menor.


Sem o seu contributo de caridade, o universo do amor fraternal seria consideravelmente menor.

Pense nisso! E jamais acredite naqueles que desconhecem a importância de um pequeno tijolo na construção de um edifício.


Lembre-se da minúscula gota d`água, que delicadamente se equilibra na ponta do raminho, só para tornar a natureza mais bela e mais romântica, à espera de alguém que a possa contemplar.

E, por fim, jamais esqueça que são essas mesmas pequenas e frágeis gotas d`água que, com insistência e perseverança conseguem esculpir a mais sólida rocha.



segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Você pode fazer qualquer coisa

Você pode fazer qualquer coisa

Há muitos anos, meu pai recebeu o diagnóstico de uma doença cardíaca terminal.
Ele se aposentou por incapacidade permanente e não podia ter um emprego fixo.
Ficou bem por um período, mas de repente teve um problema e precisou ser hospitalizado.
Como queria fazer alguma coisa para se manter ocupado, ele resolveu trabalhar como voluntário no hospital infantil local.
Papai adorava crianças. Era a ocupação perfeita para ele. Acabou trabalhando no setor onde estavam crianças em estado crítico e terminal.
Conversava e brincava com elas e faziam trabalhos manuais e artesanato. Às vezes, uma das crianças não resistia.
Para confortar os familiares, papai lhes dizia que em breve estaria com seus filhos no Céu e cuidaria deles até sua chegada.
Também perguntava ao pai ou à mãe se gostariam de mandar, através dele, uma mensagem para o filho.
As atitudes de meu pai pareciam ajudar as famílias a superar o sofrimento. Certa vez, uma menina de oito ou nove anos foi internada com uma doença rara que a paralisara do pescoço para baixo.
Não sei o nome da doença ou qual o prognóstico, mas sei que tudo aquilo era muito triste para a garotinha.
Ela não podia fazer nada, estava muito deprimida.
Meu pai decidiu tentar ajudá-la. Começou a visitá-la no quarto, levando tintas, pincéis e papel. Ele arrumava o papel num apoio, punha o pincel na boca e começava a pintar.
Ele não usava as mãos de forma alguma. Somente a cabeça se mexia.
Ele a visitava sempre que podia e pintava para ela. Durante o tempo todo dizia: "Olhe, você pode fazer qualquer coisa que sua mente quiser."
A menina começou então a pintar usando a boca, e ela e meu pai se tornaram amigos.
Logo depois, a garotinha saiu do hospital porque os médicos acharam que nada mais poderiam fazer por ela.
Meu pai também deixou um pouco o voluntariado no hospital infantil porque ficou doente. Algum tempo depois, ele se recuperou e voltou ao hospital para trabalhar no balcão de atendimento que ficava no hall de entrada.
Um dia, as portas da frente se abriram. A menininha que estivera paralisada entrou, mas, dessa vez, andando.
Foi até meu pai e o abraçou bem forte.
Ela lhe deu um desenho que fizera usando as mãos. Na parte de baixo estava escrito: "Muito obrigado por me ajudar a andar."
Papai chorava sempre que nos contava essa história – e nós também. Ele dizia que, às vezes, o amor tem mais poder do que os médicos.
Meu pai – que morreu apenas alguns meses depois que a menina lhe deu o desenho – amava cada criança naquele hospital.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O benfeitor secreto -

Woody McKay Jr.

Por volta de 1910, meu pai era motorista de um homem muito rico e testemunhou o empenho do patrão em ajudar anonimamente pessoas que jamais poderiam retribuir o favor.
Meu pai me contou várias histórias fascinantes dessa época, mas uma em especial ficou guardada para sempre na minha memória.
Um dia, ele levou seu patrão a um encontro de negócios em outra cidade. Nos arredores pararam para comer um sanduíche.
Enquanto comiam, vários garotos passaram pelo carro, brincando com arcos.
Um deles mancava.
Chegando mais perto da janela, o patrão de meu pai viu que o garoto tinha um dos pés deformados.
Ele saiu do carro e alcançou o menino.
- Este pé lhe traz muitos problemas?
– perguntou.
- Tenho de andar devagar
– o garoto respondeu.
– E preciso cortar um pedaço do sapato para poder pisar melhor.
Mas dá para ir levando.
Por que o senhor está me perguntando isso?
- Talvez eu possa ajudá-lo a curar seu pé.
Você gostaria? - Claro – disse o menino, embora tenha ficado um pouco confuso com a pergunta.
O empresário anotou o nome do garoto, voltou para o carro e disse a meu pai: "Woody, o garoto que manca se chama Jimmy e tem oito anos.
Descubra onde ele mora e pegue o endereço e o nome dos pais.
" Ele entregou a meu pai um pedaço de papel com o nome do menino e pediu: "Vá visitar a família dele esta tarde e faça o possível para conseguir permissão para deixarem operar o pé de Jimmy. Podemos tratar da papelada depois. As despesas são todas por minha conta."
Eles acabaram de comer seus sanduíches e meu pai levou o chefe para seu compromisso de trabalho.
ão foi difícil conseguir o endereço de Jimmy numa loja próxima. Quase todos conheciam o menino com o pé deformado.
A pequena casa em que Jimmy e a família moravam precisava de pintura e de consertos. Olhando à volta, meu pai viu camisas rasgadas e vestidos remendados no varal ao lado da construção.
Um pneu velho pendurado por uma corda num carvalho servia de balanço.
Uma mulher de trinta e poucos anos respondeu à batida na porta enferrujada.
Parecia cansada e suas feições revelavam uma vida difícil.
- Boa-tarde – meu pai cumprimentou. – A senhora é a mãe de Jimmy?
Ela franziu um pouco as sobrancelhas antes de responder.
- Sou.
Ele se meteu em alguma encrenca? – Seus olhos examinavam o colarinho engomado de meu pai e seu terno bem passado.
- Não, senhora.
Eu represento um homem rico que quer resolver o problema do pé de seu filho, para que ele possa brincar como todos os seus amigos.
- A troco de quê, moço? Nada é de graça na nessa vida.
- Não se trata de uma brincadeira.
Se for possível, gostaria de explicar o que está acontecendo à senhora e a seu marido, se ele estiver em casa.
Sei que é inesperado e não a culpo por achar suspeito.
Ela olhou para meu pai novamente e, ainda hesitante, convidou-o a entrar. "Henry", ela gritou, "tem um homem aqui dizendo que quer ajudar a resolver o problema do pé do Jimmy." Por quase uma hora, meu pai explicou o plano e respondeu às perguntas do casal. -
Se permitirem que Jimmy seja operado, vou lhes mandar algumas autorizações para assinar. Meu patrão pagará todas as despesas. como já lhes disse – conclui. Perplexos, os pais do garoto se olharam.
inda não tinham muita certeza quanto ao que estava acontecendo.
- Aqui está meu cartão.
Quando enviar os papéis para autorização, vou mandar uma carta esclarecendo tudo sobre o que conversamos.
Se tiverem mais alguma pergunta, telefonem ou escrevam para este endereço. Isso pareceu lhes dar um pouco mais de confiança, e meu pai foi embora.
Sua missão fora cumprida.
Mais tarde, o patrão de meu pai entrou em contato com o prefeito e lhe pediu que enviasse alguém à casa de Jimmy para reafirmar à família que a oferta era legítima.
Naturalmente, o nome do benfeitor não foi mencionado.
Logo, com as autorizações assinadas, meu pai levou Jimmy a um excelente hospital em outro estado para a primeira de cinco operações a que seria submetido.
As cirurgias foram um sucesso. Jimmy se tornou o queridinho das enfermeiras na ala de ortopedia.
Todos se abraçaram e choraram quando ele deixou o hospital pela última vez. Num gesto de carinho, deram-lhe um presente especial: um novo par de sapatos, feitos sob medida para seus pés "novos".
Jimmy e meu pai se tornaram grandes amigos durante as idas e vindas do hospital.
Na última viagem, quando o garoto voltava definitivamente para casa, eles cantaram, falaram sobre o que Jimmy poderia fazer com seu pé normal e dividiram momentos de silêncio à medida que se aproximavam da casa.
O menino deu um largo sorriso ao sair do carro. Seus pais e os dois irmãos o esperavam, juntos, na maltratada porta da frente.
- Fiquem aí – Jimmy gritou para eles.
Todos ficaram olhando, surpresos, enquanto o garoto caminhava até eles. O defeito tinha desaparecido.
Com abraços, beijos e sorrisos receberam o menino com o "pé curado".
Seus pais balançavam as cabeças e sorriam enquanto o observavam.
Ainda não podiam acreditar que um homem que nunca tinham visto pagara uma enorme quantia para consertar o pé de um menino que ele nem conhecia.
O rico benfeitor tirou os óculos e enxugou as lágrimas quando meu pai relatou a cena da volta de Jimmy para casa.
"Faça mais uma coisa", ele disse. "Perto do Natal, vá a uma boa loja de sapatos. Faça com que chamem cada membro da família de Jimmy para que escolham um novo par de sapatos.
Pagarei pelos sapatos de todos.
Mas comunique que farei isso apenas uma vez.
Não quero que fiquem dependentes de mim." Jimmy se tornou um homem de negócios bem sucedido.
Que eu saiba, ele nunca soube quem pagou por suas cirurgias.
Seu benfeitor, o Sr. Henry Ford, sempre disse que é mais divertido fazer algo pelas pessoas quando elas não sabem quem lhes fez o bem.

Papai, tenho uma bola de plástco


- Jeff Bohne

Estava preocupado com a minha filha.


Betsy estava entrando na adolescência e passava por uma daquelas fases em que qualquer pequeno problema parece uma tragédia.


Nos últimos tempos, andava cabisbaixa porque uma de suas melhores amigas resolvera implicar com suas roupas e debochar de tudo que ela dizia.

Queria encontrar uma forma de ensinar a Betsy que a vida é cheia de altos e baixos e que precisamos enfrentar as adversidades de cabeça erguida, sem deixar que afetem nossa auto-estima.


Mas fazer com que ela compreendesse isso não seria uma tarefa fácil. Como a maioria das meninas da sua idade, Betsy achava que os pais viviam em outro mundo e não entendiam seus problemas. - Minha vida é uma droga.


Ninguém se importa comigo e às vezes penso que ninguém ligaria se eu não estivesse mais aqui – ela respondeu uma noite, quando tentei conversar com ela sobre a melhor maneira de lidar com as críticas da amiga.


- Eu e sua mãe nos importamos. Você é uma garota fabulosa – disse, dando-lhe um beijo de boa-noite. Antes de dormir, conversei com minha mulher, Nancy, sobre o que podíamos fazer para ajudar Betsy.


Pensamos numa boa estratégia. No dia seguinte, durante o jantar com Betsy e o caçula, Andy, minha mulher lembrou "casualmente" de um discurso que o pastor de nossa igreja tinha feito há alguns dias.


Ele tinha comparado os problemas com uma bola de plástico, daquelas bem leves que as crianças gostam de jogar na praia.


O pastor pediu que imaginássemos que estávamos no fundo de uma piscina e tentávamos manter a bola entre as pernas, sob a água.


Isso era fácil por algum tempo, mas depois só havia duas possibilidades.


Ou você ficava tão cansado que deixava a bola escapar e pipocar na superfície ou – que é pior – ficava tão cansado em tentar mantê-la submersa que acabava se afogando.


A mensagem do pastor era clara: não adianta tentar esconder os problemas a qualquer custo.


Mesmo usando toda nossa força e determinação, em algum momento eles virão à tona e lutar contra isso pode arruinar nossa vida.


Por outro lado, ao observar as mentiras, mágoas, dúvidas e medos à luz do dia, temos muito mais chances de superar os obstáculos e perceber que não eram assim tão importantes.


Depois que Nancy contou a história, pude ver que os meninos estavam tentando entender o que aquilo tinha a ver com eles.


Expliquei que, às vezes, todos nós temos nossas "bolas de plástico", que tentamos esconder.


Pedi que, a partir de então, sempre que eles tivessem dificuldade em nos contar um problema, deveriam simplesmente dizer: "Tenho uma bola de plástico." Nancy e eu prometemos que a única coisa que faríamos por vinte e quatro horas seria ouvir. Nada de gritos, julgamentos, conselhos: apenas ouvir.


Depois de vinte e quatro horas, poderíamos tentar lhes ajudar a sair do problema.


O fundamental era que soubessem que sempre estaríamos por perto e prontos para ouvir, independente da gravidade da situação.


Através dos anos, eles nos apresentaram muitas "bolas de plástico", normalmente tarde da noite.


Algumas eram mais sérias que outras.


Algumas até engraçadas e tentávamos não rir quando nos contavam. Outras jamais chegaram aos nossos ouvidos, mas foram divididas com amigos da família.


Sempre nos submetemos à regra das vinte e quatro horas.


Nunca voltamos atrás em nossa promessas, não importando o quanto queríamos reagir ao que contavam.


Os dois agora são adultos.


Tenho certeza de que ainda têm "bolas de plástico" de vez em quando.


Todos temos.


Mas sabem que estaremos por perto para ouvi-los. Afinal, o que é uma bola de plástico? Algo que desaparece quando você a solta ao vento.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Receita de Dona Cacilda

Dona Cacilda é uma senhora de 92 anos, miúda, e tão elegante, que todo dia às 08 da manhã ela já está toda vestida, bem penteada e discretamente maquiada, apesar de sua pouca visão.

E hoje ela se mudou para uma casa de repouso: o marido, com quem ela viveu 70 anos, morreu recentemente, e não havia outra solução.

Depois de esperar pacientemente por duas horas na sala de visitas, ela ainda deu um lindo sorriso quando a atendente veio dizer que seu quarto estava pronto.

Enquanto ela manobrava o andador em direção ao elevador, dei uma descrição do seu minúsculo quartinho, inclusive das cortinas floridas que enfeitavam a janela.

Ela me interrompeu com o entusiasmo de uma garotinha que acabou de ganhar um filhote de cachorrinho.

- Ah, eu adoro essas cortinas...

- Dona Cacilda, a senhora ainda nem viu seu quarto... Espera um pouco...- Isto não tem nada a ver, ela respondeu, felicidade é algo que você decide por princípio.

Se eu vou gostar ou não do meu quarto, não depende de como a mobília vai estar arrumada... Vai depender de como eu preparo minha expectativa.

E eu já decidi que vou adorar.

É uma decisão que tomo todo dia quando acordo.Sabe, eu posso passar o dia inteiro na cama, contando as dificuldades que tenho em certas partes do meu corpo que não funcionam bem...Ou posso levantar da cama agradecendo pelas outras partes que ainda me obedecem.

- Simples assim? - Nem tanto; isto é para quem tem autocontrole e exigiu de mim um certo 'treino' pelos anos a fora, mas é bom saber que ainda posso dirigir meus pensamentos e escolher, em conseqüência, os sentimentos

. Calmamente ela continuou: - Cada dia é um presente, e enquanto meus olhos se abrirem, vou focalizar o novo dia, mas também as lembranças alegres que eu guardei para esta época da vida.

A velhice é como uma conta bancária: você só retira aquilo que guardou.

Então, meu conselho para você é depositar um monte de alegrias e felicidades na sua Conta de Lembranças.

E, aliás, obrigada por este seu depósito no meu Banco de lembranças.

Como você vê, eu ainda continuo depositando e acredito que, por mais complexa que seja a vida, sábio é quem a simplifica. Depois me pediu para anotar:


Como manter-se jovem:

1. Deixe fora os números que não são essenciais.
Isto inclui a idade, o peso e a altura.
Deixe que os médicos se preocupem com isso.

2. Mantenha só os amigos divertidos.
Os depressivos puxam para baixo. (Lembre-se disto se for um desses depressivos!)

3. Aprenda sempre:Aprenda mais sobre computadores, artes, jardinagem, o que quer que seja.
Não deixe que o cérebro se torne preguiçoso.
'Uma mente preguiçosa é oficina do Alemão.'
E o nome do Alemão é Alzheimer!

4. Aprecie mais as pequenas coisas

5. Ria muitas vezes, durante muito tempo e alto.
Ria até lhe faltar o ar.
E se tiver um amigo que o faça rir, passe muito e muito tempo com ele / ela!

6. Quando as lágrimas aparecerem Aguente, sofra e ultrapasse.
A única pessoa que fica conosco toda a nossa vida somos nós próprios.
VIVA enquanto estiver vivo.

7. Rodeie-se das coisas que ama: Quer seja a família, animais, plantas, hobbies, o que quer que seja.
O seu lar é o seu refugio.

8. Tome cuidado com a sua saúde:
Se é boa, mantenha-a. Se é instável, melhore-a.
Se não consegue melhora-la , procure ajuda.

9. Não faça viagens de culpa.
Faça uma viagem ao centro comercial, até a um país diferente,
mas NÃO para onde haja culpa


10. Diga às pessoas que ama que as ama a cada oportunidade.
E, se não mandar isto a pelo menos quatro pessoas - quem é que se importa? Serão apenas menos quatro pessoas que deixarão de sorrir ao ver uma mensagem sua.
Mas se puder pelo menos partilhe com alguém!

sábado, 2 de janeiro de 2010


Pés Grandes, Coração Maior Ainda


O verão ainda não havia começado, mas fazia um calor insuportável.

Parecia que todo mundo estava procurando por algum tipo de alívio e, assim, a sorveteria era um lugar natural para se ir.

Uma menininha, com o dinheiro apertado na mão, entrou na loja.

Antes que pudesse dizer qualquer coisa, o empregado asperamente mandou que saísse e lesse o cartaz na porta – e que ficasse lá fora até que calçasse uns sapatos.

A menina saiu devagar e um homem bem alto a seguiu até a calçada.

Ele ficou observando enquanto a garota leu o cartaz em frente à loja: PROIBIDO ENTRAR DESCALÇO.

Lágrimas começaram a rolar pelo rosto da menina, que se virou para ir embora. Então o homem alto a chamou.

Ele se sentou no meio-fio, tirou seus sapatos numero quarenta e quatro e os colocou em frente à garota, dizendo: - Tome aqui.

Você não vai conseguir andar com eles, mas, se for deslizando os pés, pode buscar sua casquinha de sorvete.

O homem levantou a menina e colocou os pés dela nos sapatos.

- Não precisa ter pressa.

Estou cansado de andar por aí e vou ficar muito bem aqui sentado, tomando meu sorvete. Impossível não notar o brilho nos olhos da menina quando ela chegou no balcão e pediu a casquinha de sorvete.

Ele era um homem grande, é verdade. Tinha uma barriga grande, sapatos grandes, mas, principalmente, tinha um grande coração.

Receita de ano novo


- Carlos Drummond de Andrade


Para você ganhar um belíssimo ano novo, cor de arco-íris, ou da cor da sua paz, Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido – mal vivido talvez ou sem sentido.

Para você ganhar um ano, não apenas pintando de novo, remendado às carreiras, mas novo nas sementinhas do vir a ser novo, até no coração das coisas menos percebidas – a começar pelo seu interior.

Novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, mas com ele se come, se passeia, se ama, se compreende, se trabalha.

Você não precisa beber champanhe ou qualquer outra birita, não precisa expedir nem receber mensagens – planta recebe mensagem? Passa telegrama? Não precisa fazer lista de boas intenções, para arquivá-las na gaveta.

Não precisa chorar de arrependido, pelas besteiras consumadas, nem parvamente acreditar que, por decreto da esperança, a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome, você tem de merecê-lo, tem de fazê-lo de novo.

Eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente.

É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.