Você pode fazer qualquer coisa
Há muitos anos, meu pai recebeu o diagnóstico de uma doença cardíaca terminal.
Ele se aposentou por incapacidade permanente e não podia ter um emprego fixo.
Ficou bem por um período, mas de repente teve um problema e precisou ser hospitalizado.
Como queria fazer alguma coisa para se manter ocupado, ele resolveu trabalhar como voluntário no hospital infantil local.
Papai adorava crianças. Era a ocupação perfeita para ele. Acabou trabalhando no setor onde estavam crianças em estado crítico e terminal.
Conversava e brincava com elas e faziam trabalhos manuais e artesanato. Às vezes, uma das crianças não resistia.
Para confortar os familiares, papai lhes dizia que em breve estaria com seus filhos no Céu e cuidaria deles até sua chegada.
Também perguntava ao pai ou à mãe se gostariam de mandar, através dele, uma mensagem para o filho.
As atitudes de meu pai pareciam ajudar as famílias a superar o sofrimento. Certa vez, uma menina de oito ou nove anos foi internada com uma doença rara que a paralisara do pescoço para baixo.
Não sei o nome da doença ou qual o prognóstico, mas sei que tudo aquilo era muito triste para a garotinha.
Ela não podia fazer nada, estava muito deprimida.
Meu pai decidiu tentar ajudá-la. Começou a visitá-la no quarto, levando tintas, pincéis e papel. Ele arrumava o papel num apoio, punha o pincel na boca e começava a pintar.
Ele não usava as mãos de forma alguma. Somente a cabeça se mexia.
Ele a visitava sempre que podia e pintava para ela. Durante o tempo todo dizia: "Olhe, você pode fazer qualquer coisa que sua mente quiser."
A menina começou então a pintar usando a boca, e ela e meu pai se tornaram amigos.
Logo depois, a garotinha saiu do hospital porque os médicos acharam que nada mais poderiam fazer por ela.
Meu pai também deixou um pouco o voluntariado no hospital infantil porque ficou doente. Algum tempo depois, ele se recuperou e voltou ao hospital para trabalhar no balcão de atendimento que ficava no hall de entrada.
Um dia, as portas da frente se abriram. A menininha que estivera paralisada entrou, mas, dessa vez, andando.
Foi até meu pai e o abraçou bem forte.
Ela lhe deu um desenho que fizera usando as mãos. Na parte de baixo estava escrito: "Muito obrigado por me ajudar a andar."
Papai chorava sempre que nos contava essa história – e nós também. Ele dizia que, às vezes, o amor tem mais poder do que os médicos.
Meu pai – que morreu apenas alguns meses depois que a menina lhe deu o desenho – amava cada criança naquele hospital.
Nenhum comentário:
Postar um comentário