quarta-feira, 29 de setembro de 2010



Solidão e Consciência




Nesta época em que vivemos, a


sensação é que jamais estamos sós.


Cercados por gente em ônibus,


metrôs, aviões, locais de trabalho e ruas.


Entretanto, nunca fomos tão solitários.


E quanto mais nos cercamos de


gente, de barulho, de tarefas, mais


se agrava a sensação de que estamos sós.


Parece contraditório?


Parece sim.


Mas não há contradição.


Porque estar em companhia de


alguém é muito mais do que estar ao lado da pessoa.


Muitas vezes a presença física


está lá, mas a alma já escapou para


um lugar distante.


Um dos maiores compositores


da Humanidade, Giuseppe Verdi, criou uma


imagem fascinante para as pessoas


que vivem cercadas de gente, em festas


cheias de risos e de alegria, mas que


se sentem caminhando sós pelo Mundo.


Está na ópera La traviata.


É quando a personagem Violeta fala que


é uma mulher sozinha em um populoso deserto.


Quantas vezes nos sentimos em um deserto


habitado por gente estranha! Sim, em nossa


vida raramente temos pessoas que pensam igual a nós.


Aqui e ali temos afinidades e pontos


em comum, mas a trajetória da alma é solitária.


Nossas descobertas, vitórias e


frustrações são intransferíveis.


Em nosso caminho para Deus estabelecemos


diálogos que dizem respeito apenas a nós mesmos.


Processos pessoais, momentos


puramente individuais em que a voz


da consciência ressoa em nossa alma com exatidão...


Com rara sinceridade.


Por melhores sejam os amigos, eles


não nos dirão as verdades como a nossa própria consciência o faz.


O amigo não vai desejar nos ofender, maltratar ou irritar.


Por isso, ele tentará minimizar a dura verdade.


Mas a consciência, não.


Ela nos apresenta uma avaliação


rigorosa de nossos atos.


Ela nos põe diante de nós mesmos.


Tudo muito naturalmente.


E sequer conseguimos contestar


essa avaliação criteriosa.


Então, por que temer a solidão?


É quando silencia o mundo à nossa


volta que conseguimos ouvir a voz da consciência.


O homem sábio muitas vezes


busca o deserto, a quietude, o silêncio, a fim de


se encontrar consigo mesmo, de voltar-se para Deus.


Há tempo para tudo, ensina o


Eclesiastes, um dos livros bíblicos.


Tempo de semear, tempo de colher, tempo


de falar, tempo de silenciar também.


Silenciar para ouvir os sons da alma, os


conselhos do coração.


Então, se a vida lhe oferece a solidão, acolha-a


como um presente.


Aproveite cada minuto para reflexões.


Encare tudo como oportunidade de aprendizado.


Há tanta gente imersa em ruídos, sufocada


por conversas maledicentes ou


pelo som de risadas irônicas.


Há tanta gente cercada de pessoas mas


com o coração amargurado, oprimido, vazio.


Por isso, não lamente a falta de companhia


do Mundo. Busque na sua solidão a mão amiga de Deus.




* * *


Enquanto você se crê solitário e


triste, frustrado nos anseios que


acalentava, perde os olhos nas tintas


carregadas do pessimismo e não vê aqueles


olhos que o fitam inquietos, desejando se


acercar de você, sem oportunidade de poder fazê-lo.




Pense nisso!

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